Alguém anotou a matrícula do camião?

Acredito que poucas horas antes do inicio do jogo de ontem, entre o Benfica e os rapazitos esverdeados, muitos adeptos do clube da Luz estivessem num sofrimento atroz de quem à partida se dá por derrotado, mesmo que no fundo haja sempre a fé inabalável na vitória. Dá que sofrer obviamente, se por um lado é inabalável essa fé, por outro o mau momento geral da equipa leva a uma quase derrota anunciada, quando à 4 jornada o campeão nacional em título está em 13º lugar.

Confesso que me incluía nesse grupo de pessimistas, embora estivesse bem rodeado de amigos, minis, minis, minis, e alguns petiscos locais entre os quais uma chanfana descomunalmente deliciosa.

Chegava a hora do jogo e a ansiedade crescia a olhos vistos, tudo bem misturado numa tômbola de cerveja, cigarros, um baralho de cartas e um final de tarde solarengo a fazer lembrar um Agosto já passado e com um fresquinho menos convencional nas pernas.

Xistra apita e começam os comentários.

Ainda o liedson não tinha tocado na bola para o início do jogo e já alguém ao fundo se queixava da colocação do Roberto na baliza. Ao ouvir isso muito previam o 0-1 antes dos 10 minutos de jogo.

Mas ao contrário do que tudo apontava, o Benfica apresentou-se, não na sua melhor forma, mas numa condição táctica a fazer lembrar o Benfica campeão de há apenas uns meses. Benfica esse que tem andado perdido entre mal entendidos físicos, desencontros tácticos, e desculpas esfarrapadas (algumas) e outras menos esfarrapadas que custam a ouvir, sobretudo quando se trata de desculpar derrotas frente a adversários de nível inferior.

Jesus pareceu, ontem, por momentos ter acesso ao telefone que o põe em ligação directa com o seu pai. A defesa foi feita em pressão total, desde a área do adversário, os jogadores posicionaram-se de forma a anular os movimentos atacantes do adversário com eficácia. Aliás, o zbordem trocava a bola livremente à saída da sua área e a seguir não fazia mais nada de jeito com ela devido a essa pressão da equipa da casa.

E depois, no meio desta normalidade meio esquecida, apareceu aquele que é a minha maior contradição emocional.

Cardozo esteve no jogo como um camião desgovernado, sem travões à solta na antiga IP5 na zona de Sever do Vouga.

Fez dois golos plenos de “ponta-de-lancisse” e poderia ter feito mais uns quantos caso não fosse ele um exemplo crónico de super eficácia e por vezes mega displicência.
Tacuara devolveu aos adeptos os assobios do jogo anterior, mas em vez de repressão e desalento, devolveu-os cheios de beijinhos doces e festinhas na nuca, a todos sem excepção, aos que estavam no estádio e aos que estavam em casa. Cardozo em forma e num dia bom é perigoso, é ele e mais dez, são onze a jogar e a ganhar.

No final o dever foi cumprido. Se a normalidade da APAF se mantiver, logo estaremos a 9 pontos do primeiro. Estes 9 pontos parecem-me agora 30, mas sim, após o jogo do Hapoel e este frente à estrumeira penso que se abriu uma nesga de sol brilhante sobre o futuro do campeão nacional.