Admirável mundo novo…

David Moyes was facing a team managed by a man called Jesus and destroyed by a footballer called Angel.

Frase retirada de um qualquer diário inglês on-line.

Penso que grande parte da nação benfiquista estava ontem antes da hora do jogo a viver um dilema:

Seria este Benfica capaz de vencer os ingleses do Everton?

A resposta foi dada de forma brilhante durante 90 minutos de excelência, num recital de futebol digno da melhor orquestra do mundo.

Jorge Jesus tem o mérito dos predestinados. Ter 11 jogadores em campo a trocar a bola não será uma missão de outro planeta e digo isto em termos comparativos entre milhares de equipas de futebol que existem no mundo.
Um treinador começa a ter mérito quando desse conjunto de 11 homens nasce algo mais que uma mera organização táctica.
Jesus começou a ganhar mérito quando pegou num punhado de jogadores, que vinham de épocas desastrosas com resultados abaixo do mediano e começou a construir uma equipa.
Jorge Jesus segura o mérito conquistado solidificando essa equipa, dando-lhe uma entidade à muito perdida, fazendo dela uma máquina regular de produção de jogo. Mas Jesus sobe ao Olimpo quando consegue o extraordinário feito de pegar em 11 jogadores e fazer uma unidade só.

Essa unidade, com ligações fortes e extremas entre as suas partes, por momentos e devido à perfeição da interacção dos componentes, cresce em campo, agiganta-se e no meio do verde relvado faz nascer um monstro medonho de proporções assustadores que começa numa ponta do campo e acaba na outra a trucidar tudo o que lhe aparece pela frente e só acalma quando vê o esférico gentilmente a descansar no fundo das redes adversárias.

Ontem foi uma prova que isso acontece e mais, não acontece por mero acaso ou demérito do adversário. Acontece sim porque aos comandos dessa máquina poderosa de jogar futebol está um homem com nome mítico no mundo religioso e que tem o futebol como seu sangue e oxigénio.
Digo que pela sua postura e discurso Jorge Jesus não seria a minha escolha inicial, mas corrijo penitenciando-me agora dizendo que nenhum outro treinador no mundo serviria melhor este clube.

Jesus está empenhado como ninguém em devolver o Benfica ao seu estado natural de eterno vencedor.

Mas é claro que todo este mérito se deve em muito à qualidade de executantes que o treinador tem ao seu dispor.
Ontem vimos uma equipa quase sem falhas, com todas as suas unidades (salvo raras excepções pontuais) a produzir muito e bem, cumprindo as orientações do filho de deus.
Quem tem jogadores como Di Magia, Aimar, Saviola, Luisão, Ramires, Javi, David Luiz e Tacuara, sabe que uma vez bem orientados todos eles dão garantias de uma execução de qualidade.

Do jogo de ontem ressalvo a genial exibição de Di Maria e Saviola. É muito futebol naqueles corpos tão pequenos, mas ao juntarem-se a todos os outros aí sim, aparece o tal monstro de que falei há pouco.

Fico-me aqui na euforia desmedida da vitória contundente.

Acalmo os ânimos e espero pelo próximo jogo…

Mas ainda nada ou ninguém conseguiu tirar-me este sorriso estúpido dos lábios que guardo com carinho desde ontem às 8 da noite.